quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Jorge Viana diz que proposta de Mara Rocha “é a pior inimiga da ideia de fazer a estrada”



Ex-senador diz que ideia de mudanças é inimiga da proposta de integração como Peru

A proposta de transformação do Parque Nacional da Serra do Divisor (PNSD) em Área de Proteção Ambiental (PA), na qual é possível inclusive a criação de gado, apresentada em projeto de lei de autoria da deputada federal Mara Rocha (PSDB-AC) foi duramente criticada pelo ex-governador e ex-senador da República Jorge Viana, que também vem a ser engenheiro florestal e difusor do conceito de florestania – ideia de preservação ambiental eu prega cidadania também nas florestas.
Sem citar o nome da parlamentar, o político atualmente sem mandato (foi derrotado nas eleições de 2018 na tentativa de reeleger-se para o Senado), veio a público num vídeo de dois minutos veiculado em suas redes sociais para dizer que a proposta da deputada é a “maior inimiga da ideia” de integração do Acre por via terrestre com o Peru.
O Parque Nacional da Serra do Divisor fica na região do Alto Juruá, interior do Acre, na fronteira com o Peru. Por ali deve passar a estrada que deverá integrar o Brasil ao território peruano por via terrestre, um projeto almejado por políticos acreanos nos últimos 40 anos e que está próxima de ser concretizada a partir de articulações envolvendo o senador Márcio Bittar (MDB-AC), o vice-governador Wherles Rocha e a própria Mara Rocha, que apresentou a ideia de mudanças no PSND.
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, já esteve no território por onde deve passar a rodovia ligando a cidade brasileira de Mâncio Lima com Pucallpa, já no Peru, numa extensão de pelo menos 150 quilômetros. O presidente Jair Bolsonaro anunciou aos parlamentares acreanos envolvidos com a questão que banca o projeto de construção da estrada. A propósito, Márcio Bittar, além do senador Sérgio Petecão (PSD-AC) e deputados federais do Acre e de Rondônia estiveram no Peru, no ano passado, quando ouviram das autoridades daquele país o interesse da ligação terrestre, inclusive para financiar parte da obra.
Mara Rocha, que vem a ser irmã do vice-governador do estado, apresentou o projeto com a justificativa de que, com sua atuação configuração jurídica, o Parque Nacional da Serra do Divisor – criado em 1986, no governo do então presidente José Sarney – não permitiria a ação de homens e máquinas trabalhando na área. O projeto de Mara Rocha também visa alterar a configuração jurídica da Reserva Extrativista Chico Mendes, localizada numa área que envolve pelo menos cinco municípios – Sena Madureira, Xapuri, Epitaciolândia, Brasileia e parte de Assis Brasil, no Alto Acre.
É disso que Jorge Viana discorda. “Se tem um jeito de a integração não acontecer e a estrada também não sair é [a aprovação] de uma proposta como esta”, diz o ex-senador. “A proposta é a pior inimiga da ideia de fazer a estrada. Por que isso? Porque você vai trazer um problemão com a ideia de extinguir um parque importantíssimo, porque tem a maior biodiversidade da Amazônia brasileira, e isso vai vir para a discussão, para o debate”, acrescentou.
Em seguida, Viana propõe uma reflexão: “O mundo mudou, gente! O Acordo de Paris, que foi assinado em 2015, vai entrar em vigor agora, em 2020. São 190 países que o assinaram. Nós, que preservamos nossas florestas, vamos ter nisso agora uma vantagem, para poder ganhar dinheiro, para poder ajudar a melhorar a vida das pessoas”, disse.
O político lembrou que o início da integração terrestre do Acre com o Peru foi feita em seu governo e nos demais da Frente Popular, que governou o Acre por 20 anos, em cinco mandatos consecutivos, até 2018.  “Nós trabalhamos na integração de Rio Branco a Cruzeiro do Sul, de Rio Branco a Assis Brasil e, com ajuda do governo federal, fizemos essas integrações todas, com o Peru e a Bolívia. Isso tem que ser melhor usado, do ponto de vista econômico, com o governo federal atuando e resolvendo problemas das aduanas”, disse.
Jorge Viana também lembrou o interesse da China em interligar esta região da América do Sul com o Oceano Pacífico, no Peru. “Em 2014, o governo chinês, com o atual presidente da China vindo ao Brasil para assinar com a [então] presidente Dilma [Rousseff] as primeiras tratativas para fazer a ferrovia para ligar o Brasil ao Oceano Pacífico. Eu trabalhei nisso, junto com o César Messias [então deputado federal] e outros parlamentares. Foram gastos R$ 150 milhões só nos primeiros estudos. A ferrovia passa pelo Acre e busca fazer a integração com o Oceano Pacífico, no Peru”, revelou.
O ex-senador pergunta no mesmo vídeo: “Por que o governo e os políticos do Acre também não trabalham nisso? Vocês viram o que foi discutido no Foro de Davos. O que estão discutindo lá agora? Um jeito de a economia mundial se voltar para a questão da sustentabilidade. Eu espero que o governo e os políticos do Acre trabalhem pela integração, fortalecendo o que já fizemos, mas especialmente, na região de Cruzeiro do Sul e do Juruá, mas fazendo do jeito certo e dentro da lei”.
Tião Maia: Contilnet

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